top of page

Já não sei se ainda está chovendo

ou se ainda estou chorando

Veja as rosas do meu rosto ruborizadas

 

Quero quebrar a cara

no chão de concreto,

na poesia concreta

que se concretiza tão surreal

à frente de minhas mãos

que tentam escrever

e só rabiscam

Quero voar veloz como o pensamento,

esquecer depressa com o sentimento

Conhecer mil coisas ao mesmo tempo

Abrir minha boca

e beber um gole de vento

Sentir o sabor do suor,

do sangue e do pior

Poder dizer coisas novas

com as mesmas palavras

E no entanto, quase me mato

no mesmo tédio e vazio

de quem vive a buscar

algo que não sabe se existe

E tudo o que me motiva

é fazer o verso perfeito

Aquele que diga tudo o que me cala

Aquele que rasga o papel,

que rasga minha alma

Que com o cortante da minha voz muda,

fere e cicatriza

Amansar as feras na minha mente

e fazer aquele que não sente

querer voar comigo

além de todas as coisas sensatas,

os números e alegrias exatas

Eu paro à janela,

perco meu olhar tentando

Ver dentro de mim

buscando as palavras que digam

todas as coisas que nunca vi, senti

O sonho de todo poeta

é a cada instante se renovar

E eu, só fico aqui a rabiscar

gastando tinta e árvores,

soltando devaneios, amores,

dúvidas e temores

Gastando vida e tempo,

sonhos e loucuras

Sem desistir de alcançar

novos dizeres,

novos amores,

novos calares,

novos amares

Tentando achar o verso final,

o termo que me libertará

e enfim correr e pela janelar voar

e um mundo novo descobrir

pra além de onde o vento me levar,

Num doce devaneio me fazer sonhar

E como este poema eu não consigo findar

seu último verso serão três pontos,

que não são finais,

são infinitos

 

                 23/12/2006

 

 

Faz tanto tempo

 

Estou aqui faz tanto tempo

que nem sei mais ver as horas

no velho relógio que já parou

Não ouço mais aquele tic-tac

Aquele tic-tac

do meu coração

 

Estou aqui faz tanto tempo

O silêncio é tão ensurdecedor

Será que eles foram embora

ou será que estou surda?

Será que eu estou muda

ou todo mundo me ignora?

 

Estou aqui faz tanto tempo

Consumida por pensamentos

Já não sei se ainda está chovendo

ou se ainda estou chorando

Não sei se estou ouvindo vozes

ou se são meus pesadelos

 

Não sei se eu passei pelos dias

ou se foram os dias que me passaram

Não sei se estou aqui há uma eternidade

ou se há uma eternidade em cada minuto

 

Estou aqui faz tanto tempo

que já perdi a noção do tempo

e a noção de onde é aqui

Nem sei se ainda estou aqui

 

           Composição em parceria com o Kaider – 2006

 

 

Tão Lola

 

Ela é só mais uma criança,

está tentando aprender

mas é difícil ter confiança

Amar é querer

E esse jeito louco de ser

tão Lola

Ei, garota, vamos brincar de viver

Você é uma princesa,

eu sou sua fada madrinha

Você é tão insegura

mas quero te fazer crer

que você é Lola

um jeito lindo de ser

Você tem um brilho

que ninguém pode ter

Você tem uma aura

que muda de cor

Você era ruiva, roxa

Agora é loira

Menina-camaleoa

Você tem que rir

no meio do turbilhão

porque garota você é um furacão

Você é Lola

Não é pra qualquer um

Deixe-se amar

que amar é viver

Ei, Lola, seja minha garota

Deixe-se ser essa coisa tão louca

que é ser Lola

Ninguém pode te imitar

Deixe eles dizerem o que quiserem

porque você é especial

Você tem um jeito que é só seu

E o seu natural

é ser assim, tão Lola

Tão Lola…

 

                  Para Lola, 18/12/2006

 

 

Rosa rosada, rosa risada

Eu vejo as rosas do teu jardim

Elas roseiam a minha manhã

As rosas da minha vida

Olha as rosas dos meus olhos

que desabrocham só pra te ver

As rosas dos meus lábios

que desabrocham pra sorrir pra você

Deixa eu roubar uma rosa do teu jardim

deixa a tua rosa se abrir só pra mim

Veja as rosas do meu rosto ruborizadas

quando não tenho coragem de te olhar

 

                Inspirado na Casa das Rosas,  22/ 11/ 2006

 

 

Mãos brancas como a de fantasmas,

espectrais

Unhas vermelhas do sangue

que tiraram de alguém

Mãos que sempre tentam

o mundo inteiro abarcar

mas que sempre o deixam

escorrer por entre os dedos

Bocas que rezam e não têm fé

Bocas que beijam e não amam

Bocam que falam e não é verdade

Bocas que mordem e não têm força

Bocas que têm sede e fome

e nunca se saciam

Bocas que gritam

porque sentem dor!

 

                     10/11/2006

 

 

Quero que aches sensual

cada fio dos meus cabelos

Que tenhas o desejo animal

de tocar meus pelos

Quero que descubras a cada instante

um novo tom no meu olhar

Que tenhas o desejo atordoante

de o tempo todo me afagar

Quero sentir-te vibrante

provando em mim novidades

Te fazer me descobrir

Quero que sintas de longe

o meu cheiro estimulante

para abrir teu apetite

 

                  23/10/2006

 

Meio sem algo

que me torne

inteira

Embaixo de cada retalho

uma vida retalhada em vão

 

Sobre os mendigos deste país

 

Eles amam muito o céu deste país

é o único teto que possuem

Têm que amar muito esse solo pátrio

pra dormir nele todas as noites

 

                               17/10/2006

 

 

Por que não há um céu nesta noite?

 

Por que ele está sempre tão distante?

Por que ninguém ouve minha voz

nem por um instante?

Por que o som das lágrimas

é tão cortante?

Por que essa dor é tão constante?

Por que o olhar dele é dilacerante?

Por que o palpitar de meu coração

é tão gritante?

Por que não tê-lo é tão frustrante?

Por que esse desejo de me tornar

a amante?

Se ele soubesse que meu amor

é mais resistente que o diamante…

 

                                 12/10/2006

 

 

Verdades

 

Pra mim as únicas cores verdadeiras

são as dos seus olhos quando me observa

Pra mim o único cheiro verdadeiro

é o que deixamos nos lençóis

Pra mim o único som verdadeiro

é o da tua voz dizendo que me ama

Pra mim o único toque verdadeiro

é o da minha pele na sua,

teus cabelos entre meus dedos,

meus cabelos entre seu dedo

Pra mim o único gosto verdadeiro

é o da tua boca na minha

E a única verdade absoluta,

irrefutável e indiscutível,

é a de que te amo

 

                        23/09/2006

 

 

Acho que com tanta terra

nesse mundo

não há nenhuma estrada

que seja a certa pra eu trilhar

E às vezes sinto

que não tenho forças nos pés

pra fazer meu próprio caminho

E se isso for verdade,

então terei que criar asas

e ir conquistar o céu

 

                            14/09/2006

 

 

Colcha de retalhos

 

Há lençóis, cobertores e edredons

recobrindo ruas, avenidas, viadutos

Formam uma cinzenta colcha de retalhos

Hasteamos esta bandeira no chão

A vergonha da nação

Embaixo de cada retalho

uma vida retalhada em vão

 

                            06/09/2006

 

 

 

E agora

tornei-me uma caixa de Pandora

da qual já saíram

todas as desgraças:

a fome de amor,

a sede de carinho

e o frio de quem não tem

quem lhe aqueça

E só resta uma esperança,

pequena como uma criança,

pronta pra se libertar de mim

 

                           05/09/2006

 

 

A verdade crua

é que só eu sei

como você sua

quando sob a luz da lua

fico totalmente nua

pra ser toda sua

e grito:

“Me possua!”

 

                        02/09/2006

 

 

Eu passei a tarde inteira

procurando nos meus sonhos

um lugar além de mim

em que eu ficasse segura

Um lugar além de mim

em que eu pudesse me encontrar

Então quando acordei

senti que nem dentro de mim

estou segura

Nem dentro de mim

posso me encontrar

E me sentindo tão só assim

já não sei mais o que procurar

Pois estou sem ponto de partida

e não vejo um ponto de chegada também

 

                               Setembro/2006

 

 

Acho que hoje

estou meio sem gosto

meio sem rumo

meio sem graça

De corpo,

estou inteira aqui

Mas minha alma

vai longe

Meio partida,

meio sem conserto

meio sem esperança

Hoje tô me sentindo

meio criança,

meio só,

meio boba

Meio sem algo

que me torne

inteira

 

                   29/08/06

 

 

Viver de poesia

é uma triste alegria

Saciando a sede em lágrimas

Matando a fome com versos

Respirando aquele que almejo

Sonhando com ele que desejo

Deito-me na janela, ao sol,

e escrevo minhas mágoas

Transformo essa quentura na alma

em palavras de fogo

E com o frio do teu corpo

congelar o sol (único que ainda me toca)

 

                           26/08/06

 

 

bottom of page