Tonne de Andrade
Escrevedora e poesista
Livro de poesia (projeto):
Dedos amarelos
Esse é meu segundo projeto de livro de poesia, reunindo os poemas que escrevi entre 2007 e 2008. Pretendo publicar em breve o e-book. Nessa página está uma seleção desses poemas devidamente datados e como muitos deles não possuem título, estão também numerados.
(veja as rosas novamente)
IX
Se tiver que voltar
(veja as rosas novamente)
atrás pra ir adiante
12/03/08
X
A Juvemtudi do braziu
naum mereçe kadeia
13/03/08
Obs.: Inspirado numa pichação num muro da Zona Leste.
XI
Eu viro uma,
eu viro duas,
eu viro três
E mesmo assim
não sacio
Se você quer me beber
Me vire de uma vez
13/03/08
XXXIII - Tesouras/ tesouros
Todas as palavras foram ditas
e as musas estão na esquina
Sua avenida está vendida,
mas você segue vendado
e te apontam como o bandido
Só você não percebeu
que está banido
Passe as mãos pelos cabelos
Isso é sebo
ou apenas lágrimas
com restos de maquiagem?
Os dedos engordurados
será só outra montagem?
São sentimentos repetidos
sobre fatos retidos,
nossos pequenos delitos
que não puderam ser detidos
São momentos sem visão
capturados ao longo dos dias
E o perfume infecto que ficou
de todas as vadias
22/08/08
XXXV
Incomode os acomodados
presos em seus cercados
de olhares dominados
e sorrisos domados
Console os mal-amados
Tantos sonhos chicoteados
já não podem ser acordados
Incomode os acomodados
Foram tão sufocados
Não estaremos acabados
se não ficarmos parados
11/09/08
XXXIX
cansei de esperar minhas unhas crescerem para pintá-las
cansei de esperar que elas me deixem beijá-las
cansei de esperar a chuva parar para sair
cansei de esperar a música acabar para dormir
cansei de esperar você melhorar para te ver
cansei de esperar esfriar para comer
cansei de esperar o seu cheiro sumir daqui
cansei de esperar que parada eu chegue ali
cansei de esperar o ponteiro do relógio me atingir
cansei de esperar uma piada para rir
cansei de esperar o espelho sorrir para mim
cansei de esperar que se abra o jasmim
cansei de esperar que caiam as folhas do calendário
cansei de esperar acabar para fazer um inventário
cansei de esperar ser atendida pelo secretário
cansei de esperar que ela saia do armário
02/10/08
XLVII
Com o tempo
as pessoas criam calos
Pode observar:
estão todos calados
Buscando sair
pelos lados
05/11/08
Quem disse que eu preciso
ter par
pra dançar?
XVIII
Dias febris,
manhãs tediosas,
tardes insanas
Monotonia
Olha: a janela me chama
No meu peito uma flama
Olha: a lâmina me chama
Minha mente inflama
Será que ninguém me ama?
Pelo meu nome ninguém chama
Diamante vítril,
quem vê dentro de ti a chama?
12/ 02/ 2007
XX
Hoje eu quero ar
Sair pra voar
Hoje eu só vou ficar
Quem disse que eu preciso
ter par
pra dançar?
17/02/07
XXVI
um, dois, três, quatro,
cinco, seis, você conta,
eu canto a poesia.
30/ 03/ 2007
XXVIII
Não creias, leitor,
que a palavra é falante
que o escrito é escritor
que o poeta é amante
Se poetas amassem,
nas tardes ensolaradas
não ficariam em casa
escrevendo poesia,
mas iriam passear
no parque
Poetas são covardes:
fingem amar só pra se inspirar
Escrevem a palavra ‘beijo’
mas não sabem beijar
22/04/07
XXX
Como uma criança
escondida embaixo da cama
abraçando a si mesma,
tapando os ouvidos
para não mais ouvir os gritos,
sem perceber que estes
vêm de sua própria boca.
28/ 04/ 2007
XXIX
Fumando seu cigarro de menta,
tomando seu licor
Se o disco toca na agulha,
estamos por um fio, meu amor
Se você quer sair,
já tô na rua
Se você quer ficar,
já tô nua
Porque, meu bem,
eu tô na sua
Então, vem me amar
que já tá alta a lua
Brilhando no céu
como nunca
27/04/07
XXXV - Primeiro soneto
Cai pela borda a mão amolecida
Sob o leito parece uma criança
Não se sabe se está adormecida
ou se da vida perdeu a esperança
Nos dedos os cabelos, doce enlace
Sua respiração é lenta e sofrida
Inexpressiva e pálida sua face
A Lua a resguarda compadecida
Lua, não se vá, não a deixe sozinha
Suas bonecas estão todas partidas
Perdida a infância da menininha
Sua pele tem doce aroma de anis
O leito guarda o cheiro de bebidas
Seus olhos giram, sem sonhos infantis
26/05/07
XXXVI
Procuramos a eternidade
Além da estrela mais distante
Além do olhar mais brilhante
Será que não estamos
procurando muito longe?
Procuramos a eternidade
Além da estrela mais brilhante
Além do olhar mais distante
E nos esquecemos de viver
cada instante
29/05/07
O poema não tem seres
Nem deveres
XXXVIII - Primeiro cigarro de menta
Eu fumo três tragos do teu cigarro
Enquanto você ri do meu pigarro
Te ouço cantando com essa voz rouca
Me deixa dar três tragos na tua boca?
Você me mostra um mundo em mim
Me sinto tão leve quanto fumaça
Quero te ter em qualquer lugar assim,
seja na rua, na escola ou na praça
E de repente minha mente gira
Será por causa dessa nicotina
ou por causa do teu riso, menina?
Já está tarde, você já se vira
E eu fico aqui aspirando teu cheiro
de cigarro de menta no travesseiro
Para Lola, 01/ 08/ 2007
XLV
O amor se acaba mal eu pisco
Eu não tô chorando,
é só um olho no meu cisco
Você não é tão, é isso
É que hoje em dia,
ninguém mais ouve disco
É só que apenas
não sou uma mulher de Atenas
Sou uma mulher de Esparta
e o tédio me mata
Preciso de um cara mais guerreiro
que aguente meu pique o dia inteiro
22/12/07
(a partir daqui seguem os poemas de 2008)
III - Banho
Não se preocupe comigo,
não choro por nosso amigo
Choro por chorar,
como aliás devia ser sempre
Choro de cansaço,
de não ter saída,
por falta de abraço,
por ser reprimida
Choro por querer falar
as coisas que não se fala
Choro porque é preciso
e porque preciso
nessas mágoas navegar
Não choro como os bebês,
já não sinto fome
Não choro como as crianças,
o escuro não é tormenta
Choro como os jovens
de almas agitadas
e mais nada
Talvez me diga
que foi um sonho
e que não chorei
Trago o olho risonho
Mas é porque no banho
também a alma lavei
19/01/08
IV - Isto não é um poema
O poema é
O poema deve dizer
O poema é
O poema deve fazer
O poema é
O leitor deve entender
O poema é
O leitor deve sentir
O poema é
O poeta deve transmitir
O poema é
A poesia deve estar contida
O poema é
A poesia deve ser compreendida
O poema é
A poesia deve ser moldada
O poema é
A poesia deve ser comprimida
O poema é
O poeta deve escrever
O poema não é.
A poesia, o poeta e o leitor
continuarão sem revoltar-se?
O poema não tem seres
Nem deveres
19/01/08
VIII - Inquietude
Pálpebra tremendo
Caneta bate-batendo
Perna frente-trás
16/02/08
Não sabem sentir as cores
e perfumes do poema
III
Os carros correm,
os casos recorrem,
as palavras não param,
as pessoas pedem por pão e poesia
06/ 01/ 2007
V
trilhos trilham um túnel
além do infinito, um caminho a seguir
acharei o fim em mim?
08/ 01/ 2007
VII - Paradoxo
O que todos os poemas
significam se estão
subjugados a regras?
Sejam elas quebradas
Liberte-se, palavra
Voe, feliz e livre
Em cada verso traga
um tufão sentimental
Umedeça meu papel
com doçura de mel
e lágrimas do meu céu
Musas, venham sussurrar
que com minha caneta
possa eu me libertar
15/ 01/ 2007
X
O último gole d’água
te dou pra beber
A última bolacha
te deixo comer
Meu último sorriso
enfeita tua cara
A tua última lágrima
quem chorou fui eu
29/ 01/ 2007
XI - Brisa namoradeira
A brisa é minha
Lambe minha pele
Brinca de bagunçar
minha cabeleira
Brisa, me namora
Vem e vai embora
Ela me abraça
Venta meu coração
E foge faceira,
vai namorar outras...
30/ 01/ 2007
XII
Tenho pena das pessoas
São cegas, não sabem ler
Lêem poesia da mesma forma
como olham as rosas no jardim
Não sabem sentir as cores e perfumes do poema
É por isso que sempre se furam nos espinhos da literatura
E desistem de ler e ter jardins
02/ 02/ 2007
XV
raio de sol no seu olhar
deixe-me ver na sua íris
as cores do arco-íris
07/ 02/ 2007
XVI - Hai- Karen
Risada altiva,
rindo melíflua melodia,
menina nipônica
07/ 02/ 2007
XVII - P r O b l E M A
O poema tem sua própria emoção,
não deve ser mero reflexo do poeta
Não existe a verdade do poema
Poetar é mentir
08/ 02/ 2007