top of page

I - Mesoamérica: escritas e calendários

  • Tawnne de Andrade
  • 5 de jun. de 2015
  • 5 min de leitura

Esta página do site de História tem um formato diferente das demais: adotei o formato de blog. Isso facilita que eu possa fazer várias postagens de textos longos.

  • O tema dessa seção é minha paixão pela história da Mesoamérica, que com o blog posso tratar de forma mais detalhada.

  • O conteúdo dessa página está baseado nas minhas anotações pessoais sobre uma disciplina da USP chamada História da Cultura I, magistralmente ministrada pelo professor mesoamericanista Eduardo Natalino dos Santos. Assim, seguirei o cronograma desse curso, porém isto não é uma transcrição fidedigna do curso desse professor, e os textos estão repletos de reflexões pessoais sobre o tema, já que este site é voltado para estudantes do ensino básico, eu procuro sempre simplificar a linguagem e usar comparações que ajudem estudantes do Ensino Médio. Além disso, em alguns momentos acrescentarei resumos ou anotações de alguns textos da bibliografia desse curso que venho lendo nesse último semestre (todas as fontes serão citadas).

  • Na composição da página também pretendo intercalar textos com posts somente de imagens, mapas e fotos, que ajudam o estudante a visualizar os temas abordados.


  • O que é História?

  • História são os fatos passados; e ao mesmo tempo, é a disciplina que tem isso como objeto de estudo. Portanto estamos separados do nosso objeto de estudo, o nosso contato com os fatos passados é mediado pelas fontes (que são somente uma parte dessa realidade passada). Assim, a explicação do historiador não é uma reconstituição exata do passado, mas uma construção.

  • Muitas coisas podem ser usadas como fontes (vestígios arqueológicos, fósseis, documentos, escritos, relatos orais etc). Mas mesmo as fontes que temos não são necessariamente o que aconteceu, porque as fontes também são mediadas pelo contexto em que são produzidas: “qual o material? Quem produziu? E para quê? Quem escreveu? Quando? Por quê?” A análise de uma mesma fonte também varia de acordo com o contexto em que é interpretada.

  • A cultura envolve tudo o que é humano: representações, seus modos de vida, concepções e costumes, com uma variabilidade imensa de acordo com o período e lugar em que cada grupo humano se desenvolveu.


  • O conceito de Mesoamérica não é uma definição geográfica, refere-se a uma região e desenvolvimento cultural de vários povos no que hoje corresponde ao México (parte central e península de Yucatán), Belize, Guatemala, e uma parte de El Salvador e de Honduras.

  • Nessa região houve o desenvolvimento de um sistema de escritura que chamamos de pictoglífico, termo que vem do grego: picto = pintura/imagem e glifo = sistema de escritura.

  • Esses registros escritos podem ser encontrados em diversos materiais: gravados ou pintados em pedra, nos templos e estelas; mas no caso da Mesoamérica uma outra forma específica surgiu, um tipo de livro, que chamamos de códice, feito com papel de uma planta chamada amatl ou pintado sobre pele de animais curtida, em formato de sanfona.

  • No conjunto das Américas pré-colonização européia, esse é o único caso de desenvolvimento de um sistema de escrita, ainda que devamos levar em consideração o sistema andino (região da América do Sul) onde se desenvolveram sistemas complexos de registro e contagem, como os quipos (cordas usadas para calcular grandes quantidades e registrar números, como dos tributos pagos, por exemplo), e sistemas de pintura com padrões complexos, como na arte cerâmica dos indígenas da ilha de Marajó.

  • Por essa especificidade, cabem reflexões: que condições sociais, políticas e econômicas exigiram o desenvolvimento de um sistema de escrita? Quais as diferenças no modo de vida dos povos da Mesoamérica dos demais povos indígenas? Quais os usos que essa escrita teve? Quem escrevia e o que escreviam?

  • Além disso, desenvolveram complexos sistemas de calendário. A maioria dos povos dependentes da agricultura passaram a observar o céu e a mudança cíclica da posição dos astros e associar isso às mudanças das estações. Isso era necessário para saber a época certa do plantio e da colheita, das chuvas e do inverno. É por isso que tanto egípcios e mesopotâmicos quanto mesoamericanos desenvolveram tantos estudos de Astronomia e matemática.

  • Mas um sistema de calendário não serve somente para contar o tempo. Ele é uma forma de organizar o tempo, organizar a sociedade e a vida das pessoas. Ao estudarmos isso, muitas pessoas ficam se questionando sobre essa “fixação” dos povos antigos com o calendário como se fosse algo muito estranho. O que é até engraçado se pensarmos como a nossa sociedade é totalmente dependente do calendário:

  • Podemos rapidamente pensar na sociedade ocidental em que vivemos, que adota o calendário solar de 365 dias divididos em 12 meses e que possui semanas de 7 dias, de acordo com o ciclo lunar. O calendário organiza nossas vidas: quais meses a escola funciona e quais meses trabalhamos, quais meses ficamos de férias; quais dias da semana estudamos e trabalhamos, e quais dias da semana descansamos; quando temos compromissos, qual a data de receber o salário, qual a data de pagar as contas.

  • As datas comemorativas cumprem um papel essencial na regulação de aspectos sociais, como os feriados para descansarmos e as festas de aniversário; aspectos políticos, como no caso do Brasil, o 7 de setembro (Proclamação da Independência) ou o 15 de novembro (Proclamação da República) e como os períodos de eleições; lutas sociais, como o 8 de março (Dia de luta das mulheres), o 1º de maio (Dia dos/as Trabalhadores/as) e o 20 de novembro (Dia da Consciência Negra); aspectos religiosos, como os feriados para alguns santos, e a Páscoa, o Corpus Christi e o Natal (todas essas ligadas à religião católica, que no caso do Brasil ainda é predominante, mas cada religião possui suas datas festivas próprias); aspectos econômicos, pois convenhamos boa parte das datas ‘dia das mães/ dos namorados/ dos pais/ das crianças’, servem para movimentar a economia e vender coisas (a Páscoa e o Natal também…).

  • Toda criança vai aprendendo essa noção do tempo e de que existem as datas certas pra tudo, toda criança adoraria que todos os dias fossem aniversário/ dia das crianças/ Páscoa/ Natal, ou seja, festa; mas em algum momento os adultos nos ensinam que temos que esperar determinados dias para que determinadas coisas aconteçam, incluindo bolos de chocolate e presentes.

  • Se o calendário é um regulador tão importante da nossa vida social, por que não seria em outros povos? A diferença está na escolha das datas: as festas religiosas ou as solenidades políticas variam de acordo com a sociedade. E o sistema de contagem desse tempo também varia, no caso dos mesoamericanos havia o uso combinado de mais de um sistema de calendário.

  • Então podemos pensar que o calendário pode ter usos políticos, econômicos, sociais e religiosos. No caso da Mesoamérica, ele também era usado como um sistema para explicar o funcionamento do mundo e da vida das pessoas. Para entender como isso funcionava, teremos que entrar na forma de pensar e entender o mundo daquela sociedade.

 
 
 

Comentários


Featured Posts
Recent Posts
Search By Tags
bottom of page